Monday, June 26, 2006

Obcecação III

Leio-te e não sei.

Não sei se é felicidade
Por te conhecer melhor
Por te perceber
Por me reconhecer
Por sentir

Não sei

Não sei se é tristeza
Por te ver sofrer
Por te ver tão perto (tão longe!)
Por te ver tão pequena (tão grande!)

Não sei

Não sei se é dor
Por te ver chorar
Por te ver gritar
Por te ver cair

Não sei

Mas leio-te como quem espera

Gosto muito do que escreves!

Friday, June 23, 2006

Obcecação II

Sei que ao cair da noite
Antes que o sono me assole
E conforte
Antes que, deitado
Me perca de mim
Me visitarás Silêncio


De ti pouco sei
Mas quero de Ti saber tudo
Por isso espero-te
Calmo


Trato-te com respeito
Dou-te um nome do mundo
Mais ainda
Dou-te o nome de tudo
Mas não descanso!
Nunca descanso contigo
E não desejo mais nada
Quando te espero
Calmo
Que encontrar-te
Sentir-te
Conhecer-te

E por fim…

Ah, por fim!
Descansar em Ti.

Wednesday, June 21, 2006

Aos loucos...

Faço-me à estrada… fico parado!
Penso: deve ser já muito perceber que os conceitos que me rodeiam não têm de ter eco em mim, não têm de ser instrumentos de nada… são conceitos. Apenas isso!
E torno-me louco!

Faço-me à estrada… sento-me!
Penso: consigo, com calma, com atenção, perceber que o verdadeiro caminho é este que se percorre por dentro. Este cujo limite é o mais fundo que há em mim e que não é meu. Que não fui eu quem deu ou explica, que me ultrapassa, mas que também fala de mim. Fala de nós!
E torno-me louco!

Faço-me à estrada… fecho os olhos!
Penso: vejo tão melhor… sinto-me levado por uma mão presente que não me engana, que me apoia. Não existe melhor imagem do que a que nos vem de dentro. Não existe melhor imagem do que aquela que se observa de olhos fechados… com o coração!
E torno-me louco!

Faço-me à estrada… conto os dias que faltam!
Penso: todo o tempo é já pouco. Perco tempo com muita facilidade, com demasiada facilidade. Perco tempo comigo, em mim! Esqueço-me ou tento esquecer-me que o que importa é maior… é sempre um bocadinho maior. Tão maior que não tem fim!
E torno-me louco!

Faço-me à estrada… não penso!
E sou já louco!

Monday, June 19, 2006

Obcecação I

No outro dia lembrei-me como era ser mais novo...

ser criança!

No outro dia lembrei-me como era poder ser tudo...

poder voar!

No outro dia lembrei-me...

E quis esquecer,
Depressa,
Mais depressa,
Muito mais depressa...
JÁ!

Escuto e não sei
Esta voz que me persegue
Se o que oiço é silencio
Que me aperta, que me fere
Ou Deus
Que(m) me liberta!

Wednesday, June 14, 2006

Às Pessoas Sensíveis...

Eu, ao contrário, tinha vindo estudar por uma enorme vontade de saber mas sem ter qualquer ideia de que futuro queria seguir. Ou melhor, tinha imensas ideias. O problema era esse: tinha imensas ideias que se atropelavam umas às outras. Um dia o que queria era casar-me, outro dia ser médico, ou jurista, ou professor, ou doutor em teologia, ou clérigo ou, por vezes mesmo, monge. E tudo isto às voltas na minha cabeça, conforme o vento que soprava, ou seja: conforme o que no momento me atraía.

No meio de tudo isto, frequentemente, vinha-me Deus à ideia. Não sei porquê, mas desde miúdo sempre foi assim. Um desejo enorme dele, uma espécie de íman que, para uma pessoa sensível como eu, me deixava por vezes profundamente deliciado e outras profundamente baralhado. Porque uma pessoa sensível como eu tanto é capaz de se deixar levar por arrebates místicos como depois é capaz de se deixar prostrar pelas tentações mais descaradas e pela amarga recordação dos seus pecados passados. Às vezes penso como seria fácil a vida se eu fosse menos sensível mas depois peço perdão a Deus recordando-me das enormes graças que Ele me concedeu, precisamente através da minha sensibilidade. Foram graças sobre graças.

Monday, June 12, 2006

MMaria

Definitivamente o teu nome não engana… podemos esperar algo de bom! De ti vêm imagens bonitas que nos falam de Deus de uma forma simples, como nos foi pedido. Mas não uma beleza que se esgota em si. Falo da Beleza que nos faz viajar e nos anima, ou como diria Pedro Fabro, que nos consola!


Procuramos e propomo-nos procurar algo que sabemos ser Maior!
Esta certeza que nos anima a vida, esta certeza que nos modifica.


Acompanhas-me sempre… nos períodos mais difíceis, invadidos pelo Silencio, são estas imagens que me animam. Sei que devo pedir e sei hoje, muito graças a ti, de uma forma clara, o que pedir. É tua a frase: para quem está atento, o silêncio grita e é tua, também, esta (Uma) forma de amar:

Tento entender-te
Silêncio
Tento ouvir-te
Silêncio
Tento chegar-te
Silêncio
Tento agarrar-te
Silêncio
Tento amar-te
Silêncio


É duro
Viver-te
É duro
Não ver em ti
A simples e cortante
Ausência de tudo...


Consigo por vezes
Vislumbrar o teu poder
O teu sentido
O teu recheio


Consigo por vezes
Guardar-te fielmente...


Consigo
Por que em ti encontro
A mais pura
A mais verdadeira
A mais grandiosa
Forma de amar

Friday, June 09, 2006

A Última Ceia por Nuno Castelo-Branco

Deixei-me fascinar por este quadro.
Perco ainda hoje horas e horas a olhar para ele.
A identificar a subtileza dos pormenores.
Apenas a identificar a subtileza dos pormenores...


Francisca

Quantas e quantas vezes nos sentimos tentados a entrar... são tantas as casas com as quais nos deparamos, os lugares onde queremos parar... perder tempo!
Esquecemo-nos da nossa vocação natural. Esquecemo-nos de Ti!
Eu que caminho... e que quero continuar a caminhar.
Sempre!

"Alí estavamos os dois...

Enquanto caminhávamos na berma de nenhuma estrada, sentíamos na pele a sombra do vento. Tu, Francisco Xavier, contavas-me empolgado as tuas histórias enquanto missionário do Mundo.
Eu ouvia-te... tu rias-te com a minha obsessão pelos pormenores, pelas coisas pequenas, pela importância que lhes dou.

Parámos...
Diante de nós, duas casas:
Uma, era uma Casa Quieta, toda amarela por fora, onde se ouvia o bater das portas por causa da corrente de ar e gente à mesa em sonoras gargalhaadas e discussões ideológicas.
Apeteceu-me entrar... queria entrar...não me deixaste! Bolas!
Ao lado desta estava outra...por fora tinha um daqueles letreiros que a identificavam como Casa dos Anjos.
Confesso que pensei logo: "Claro que tu, beato como és, nesta já não te importas de entrar!!!"

Enganei-me... engano-me sempre! Nem deste conta dela!

Em vez disso, preferiste continuar a caminhar comigo aos ziguezagues, na berma daquela nenhuma tarde...
ou seria estrada?!"


Muito bom Chiquita... obrigado!

Wednesday, June 07, 2006

HÓSTIA DIVINA

Sabeis Senhor, minha vileza extrema
De horror não tendes, de até mim descer
Hóstia Divina, aspiração suprema
Vinde à minh’alma, que abraçar Vos quer

Se eu neste abraço, oh meu Jesus pudesse
Morrer de amor, morrer de puro amor
Ouvi meu Deus, a minha ardente prece
Oh vinde a mim, oh vinde a mim Senhor

Como o veado que sedento corre
Das águas cristalinas ao frescor
Assim eu corro a ti desfalecida
Com o teu pranto apago o meu ardor.

Do teu amor, as glórias quem me dera
Poder cantar aos Serafins com ardor
Oh! Leva-me depressa para o teu seio
Pois meu desejo é morrer de amor,

Em teu regaço reclinada sinto
As harmonias do eterno altar
Oh! Dos salgueiros já retomo a lira
Pois só quero abraçar-te sem fim.