Wednesday, March 28, 2007

Obcecação LXII

Sem medo
Sem duvidar
Que a resposta existe
Independentemente da pergunta
Caminho

Porque a Fé é mais do que
Um simplesmente acreditar
Que a resposta é só uma
E sempre a mesma

A Fé é caminhar
Desbravar esse terreno desconhecido
Onde me encontro com a Verdade
A cada passo

A Fé é não ter medo
É arriscar perder para ganhar
É aceitar morrer para renascer
É aceitar viver

Se algum dia Te perder
Se por um momento me abandonar de Ti
Se cansado Te negar
Que seja para depois
Renascer em Ti!

Sunday, March 18, 2007

Diário de Bordo #7

Dificilmente alguém perceberia o que lhe passava pela cabeça. Já tantos como ele, e tão perto, tinham cedido. Insistiam com ele, até! Perguntavam se não via as infinitas mãos de Deus Nosso Senhor em todo aquele movimento de pessoas a que muitos gostavam de apelidar de Fé: movimentos de Fé, diziam. Mas ele sabia que não era Fé o que os movia. Nem Fé, nem nada que fosse para além duma total falta de crença em tudo. De desespero. E então viravam-se para Deus. Chamavam Deus. Pediam a Deus. Porque nas suas cabeças Deus existia limitado a um desconhecido que, lá bem longe, tinha poder sobre tudo e todos. Porque para eles, deus não era mais do que um nome que se enquadrava no indefinido e incerto que é a vida. Soubessem eles que Deus é mais. Conseguissem eles ver para além da pobreza que era a sua vida. Acreditassem eles em Amor nos momentos de tristeza, de solidão, de miséria e aí sim, falariam de Fé!
Mas insistiam com ele. “O Senhor Padre não vê...”, “O Senhor Padre não sente pena...”, “o Senhor Padre não se compadece..” – logo a ele, que tudo via, a quem a pena arrancava dores ao coração, cuja compaixão o atirava para o meio rua, alvo de gozação e chacota... Chegou a um tal ponto em que se tornou impossível. Já todos os outros padres o tinham feito e continuava sem chover uma só gota de água. Agora só a sua negação era apontada como causa para uma seca que durava há já tempo demais. Era claro na cabeça de toda a população que não chovia porque “o Senhor Padre se recusa a celebrar uma Missa e uma Procissão para que chova”.
Ele cedeu. Concordou com tudo: Missa, Procissão, demais rezas e orações. Mas não se deixou vencer. Obrigou-os a prometer que era Fé o que os movia, que era por Fé e Amor a Deus que no Domingo se apresentariam todos para pedir que chovesse. “É Fé, Senhor Padre, já lho garanti em Confissão... e em Confissão a gente não mente!” Que saberiam eles de Deus, pensava, eles que se esforçam tão pouco por saber dos homens? E como chegar a Deus sem ser pelo filho?
No Domingo a aldeia vestiu-se de gala. Ninguém faltou! Todos se apresentaram à uma da tarde, como combinado, para o início da Procissão. Começaria com Missa por instruções do Presidente da Junta. “Com Missa tem mais poder junto de Deus Nosso Senhor”, afirmava. “Mais poder...” pensava ele. Mais poder do que o choro de uma criaça? Do que o pedido de um Santo? Que poder achariam eles que a Missa tinha? Um poder externo a qualquer um deles... mas Deus está e faz-se tão presente em cada um de nós. Como conseguiam eles não ver?
A Missa começou. A Capela transbordava e do centro do altar ele observava cabeças a perder de vista pelo campo avistado para lá da porta. “São milhares, Senhor Padre!” Milhares não seriam, mas estavam lá todos. Absorto nos seus pensamentos, o tempo foi passando. As pessoas entrando e saindo do altar. Agora, o ambão esperava-o. Não a ele, mas a Deus, o verdadeiro e único Deus, que em vão tentava entrar-lhes pelo coração.
Acabou de ler. Regressou ao altar. Fez silêncio. Tentou olhar a todo e cada Homem nos olhos. Encontrou ansiedade e avidez pelas suas palavras. “Concordei, ao fim de algum tempo, em celebrar esta Missa e conduzir a Procissão que se segue, para pedir a Deus que nos dê água este Verão... Fi-lo, porque me garantiram que era Fé o que vos movia” – olhou para a primeira fila onde um conjunto de homens alinhados e bem arranjados acenava “que sim” com a cabeça. E estavam lá todos: o Presidente da Junta, o Responsável da Organização, os Membros das Famílias Mais Respeitadas e o Médico da Aldeia – “É Fé o que vos move?”, perguntou. Ouviu-se um “sim” timido a sair da boca das pessoas.
“É Fé o que vos move?” Desta vez sentiu-se gritar, sentiu-se perder o controle sobre si. O povo acompanhou o grito respondendo “SIM”!

“Mas se é Fé, porque não trouxeram os chapéus-de-chuva?”

Tuesday, March 13, 2007

Obcecação LXI

Sou sobretudo um conquistador de penas
Das maiores às mais pequenas

Guardo-as sempre junto a mim
Para que as não esqueça
Mesmo que as não queira
Que as não promova

Tanto fica por dizer
Tantos me fogem das mãos
Que tentam
Em vão
Agarrar esses sorrisos que me rodeiam
Que me chamam
Mas que não são meus

Fica a tristeza de um tempo não vivido
Aliado à sempre presente
Pena
Que me fala dessa procura
Que não pára
Por exemplos que gritem vida

Vejo-os
Sinto-os
Chamam-me...

No fim restam-me as memórias

E que boas que são
Essas lembranças
Essa certeza que o bem permanece
E de que o mal cedo ou tarde passa

No fim fico maior
(Não fosse essa pena...)

Sou sobretudo um conquistador de penas
Das maiores às mais pequenas

Saturday, March 10, 2007

Obcecação LX


Nem só de caravelas
Nem de marés
Nem de sonhos
Nem sequer de coragem
Bravura
Fala um mundo conquistado
Uma odisseia por tantos
Cantada

É desta alma que fala
Deste orgulho
De não termos nascido
Noutro lado
Mas neste canto
À beira-mar
Sonhado

Por mares bravios nos lançámos
Enfrentando os ventos do mundo
E a bom porto chegámos
Sempre

Onde estás nobre Alma Lusitana
Que te não vejo
Não sinto
Onde habitas Espírito de Luz
Que outrora fizeste renascer da morte
Nosso rei Conquistador
Onde te posso eu encontrar

Príncipe Guerreiro
Que te foste com el rey pela penumbra

Monday, March 05, 2007

Obcecação LIX

Sinto falta desse lugar
Criado para mim
Onde me esperas
De braços abertos

O caminho, esse
Esqueço sempre
Que me abandono de ti
Quando penso que sou capaz
Sozinho

Mal me lembro
Que não existe em mim
Por eu existo contigo

Sinto falta desse lugar
Criado para mim
Onde me esperas
De braços abertos