Friday, June 06, 2008

De Mafalda Veiga...

Pedes-me um tempo
para balanço de vida
mas eu sou de letras
não me sei dividir
para mim um balanço
é mesmo balançar
balançar até dar balanço
e sair...

Pedes-me um sonho
para fazer de chão
mas eu desses não tenho
só dos de voar
e agarras a minha mão
com a tua mão
e prendes-me a dizer
que me estás a salvar

de quê?
de viver o perigo
de quê?
de rasgar o peito
com o quê?
de morrer
mas de que, paixão?
de que?
se o que mata mais é não ver
o que a noite esconde e nao ter nem sentir
o vento ardente
a soprar o coração...

Pensa em mim
dentro das mãos fechadas
o que cabe é pouco
mas é tudo o que temos
esqueces que às vezes
quando falha o chão
o salto é sem rede
e tens de abrir as mãos

Pedes-me um sonho
para juntar os pedaços
mas nem tudo o que parte
se volta a colar
e agarras a minha mao
com a tua mao e prendes-me
e dizes-me para te salvar



(Já há muito que não "Balançava" tanto, e assim logo de caras... à primeira)

Saturday, May 10, 2008

Obcecação LXXIII

Conheço-te melhor
A cada passo

Observo-te de longe
Mesmo quando estou perto

Perco-me nessa verdade
De te ver humano
Tão humano
Irritantemente humano

Eu
Que de ti esperei tanto mais
Algo tão maior,
Tão diferente

Mais...

E surpreende-me
A decepção que não se manifesta
A tristeza que não invade
A desilusão que não existe!

Supreendo-me
A gostar das falhas
A admirar os erros
Fascinado por esse teu ser
Imperfeito

Numa incansável paixão
Pelo humano
Que és

Que somos.

Saturday, March 22, 2008

Obcecação LXXII

Não sei se sonhas, como eu sonho
Nem tão pouco se te achas,
(Se é que te achas)
Como eu
(Por vezes)
Me acho,
A pensar no que move
Toca
Comove

Mas é tão grande
Tão maior que eu
(Aqui não me engano,
Igual a Ti)
Que de tão belo me prende
E não avanço

São imagens,
Belas imagens do que pode ser
(Assim eu queira)
A vida.

São só imagens
E nada mais

Tocam
Comovem
Mas raramente movem
Um ser pesado como eu

E se movessem
Que imagens criaria essa vida?

Monday, February 04, 2008

Obcecação LXXI

Colecciono opiniões
E das boas
Sobre mim

Nunca ninguém me disse:
“Vais ser pobre, humilhado, fraco, sofredor...”

Estou destinado a ser único
Grande, distinto,
Vencedor de prémios e honrarias
Um triunfador
“Não duvide disso”,
Dizem-me!

E dizem mais,
Que tenho tudo o que preciso
Exageram
Dizem que sou brilhante
Inteligente, culto, desenrascado.

Têm medo de me prender
Porque hei-de voar alto
Porque o mundo é grande
E grandes são as minhas capacidades.

E Tu, Senhor,
Pedes-me que
De coração puro,
E pela Paz,
Seja pobre
Misericordioso
Que chore
Que seja humilde
Que passe privações
Que sofra!

Não é fácil...
Mas faz-se o que se pode!

Wednesday, January 16, 2008

Obcecação LXX

Às vezes acordo antes do tempo
Levanto-me, visto-me mais depressa
E saio
Nada é igual
Tudo é mais lento
Mais saboroso
Ouvem-se os passos
Sentem-se as respirações
Cheira-se o pão quente, acabado de fazer
Vê-se bonito o orvalho de Outuno.
O automóvel que passa
Passa só, sem seguidores
Torna-se mágico, porque único.
No café escuta-se a electricidade
E os passos já mais nervosos
De quem já está no seu tempo.
Olho o relógio
É tempo de acordar
Volto para casa com a certeza
De que nada me vai saber
Como soube
Antes do tempo



O tempo perguntou ao tempo: quanto tempo o tempo tem?
O tempo respondeu ao tempo: o tempo tem tanto tempo, quanto o tempo, tempo tem!

Sunday, December 30, 2007

Diário de Bordo #8

Quantas vezes não foi aquele local, não foram aquelas pessoas, que te chamaram a uma razão perdida [muitos até dirão “falta de razão”]. E hoje, continuas a precisar daquele local, e daquelas pessoas, para que tudo faça mais sentido em ti. Como se não bastasse apenas uma vida para dar sentido a tudo. Como se a nossa vida, esta que temos e que nos foi dada, não bastasse para tudo o resto encontrar o seu sentido.

A vida, de cada um, reúne em si o que basta para viver. E isso basta!

Não importa o local,
As pessoas,
Exista em nós esse desejo de vida
E em qualquer sítio
Com quaisquer pessoas
A vida encontra o seu caminho.

Um feliz ano a todos!


(Com uma referência especial ao A.R.A. e ao F.M.R. (P.) pela boa conversa sobre isto mesmo... os lugares onde tudo faz mais sentido! Que 2008 seja um dessas lugares!)

Sunday, September 30, 2007

O mais genuíno

Como se esconde?
Como se esquece?
Como se cala?
O mais genuíno
O mais fundo
O mais rico
Dos pedidos do coração

Como posso
Deixar de chamar por Ti
Conter o pedido
Fingir que não mendigo

Como posso
Deixar de pensar em Ti
Tapar-Te com o dia-a-dia
Fugir à evidência
De que sou feita
Pra Te procurar

Como posso
Deixar de sofrer por Ti
Desligar-me...
Não abraçar o amor
Quando ele é mais fundo

"Quero-Te mais" confirma "Entrega"

Thursday, August 02, 2007

Adoro te devote

Adoro-Te com amor, Deus escondido
Sob estas aparências presente,
Dou-Te o meu coração inteiramente
Em Tua contemplação desfalecido.

A vista, o tacto, o gosto nada sabem,
Somente ouvindo se há-de crer
Creio em tudo o que o Filho de Deus veio dizer
Nada mais verdadeiro que esta Palavra de Verdade.

Na cruz estava oculta a divindade,
Aqui também o está a humanidade
Eu em ambas creio e confesso
E o que pedia o bom ladrão, eu também peço.

Não vejo as chagas como Tomé
Mas confesso-Te meu Deus e Senhor
Faz-me ter em Ti mais fé,
Uma esperança maior e mais amor.

Ó memorial da morte do Senhor!
Ó vivo pão que ao homem dás a vida!
Que a minha alma sempre de Ti viva,
Que sempre lhe seja doce o Teu sabor.

Ó doce pelicano! Ó bom Jesus!
Lava-me com o Teu sangue, a mim, imundo,
Do qual uma só gota
Faz salvar do pecado todo o mundo.

Jesus, a quem contemplo oculto agora,
Dá-me o que eu desejo ansiosamente:
Ver-Te face a face na Tua glória,
E na glória contemplar-Te eternamente.

Amen.

Saturday, June 16, 2007

Obcecação LXIX

Do alto ninguém me vê
Armado
Nem tão pouco protegido
Por estes escudos, estas capas
Que me escondem
Seguram
Do mal onde a fé falta
Do bem que não se vê

Do alto caem sorrisos
De quem me vê
Como nem eu vejo
Porque não sei
Qual a cor da minh’alma,
A sua textura
O seu sabor

Do alto soam sinceras
As preces
Que intercedem pela Verdade
Pelo conhecimento desse Amor
Que salva, que cura
Que existe em mim

Conseguisse eu ver!

Do alto
Neófitos da Luz
Ficam perto, atentos

Mais perto
Mais atentos
Porque agora vêem
Como só Deus vê
O Amor

Monday, June 04, 2007

De Antonio Machado...

Caminante son tus huellas
El camino nada más;
caminante no hay camino
se hace camino al andar.
Al andar se hace camino
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante, no hay camino
sino estelas sobre el mar.
¿Para que llamar caminos
A los surcos del azar...?
Todo el que camina anda,
Como Jesús sobre el mar.

Yo amo a Jesús que nos dijo:
Cielo y tierra pasarán
Cuando cielo y tierra pasen
mi palabra quedará.
¿Cuál fue Jesús tu palabra?¿Amor?, ¿perdón?, ¿caridad?
Todas tus palabras fueronuna palabra: Velad.
Como no sabéis la hora
En que os han de despertar,
Os despertarán dormidos
si no veláis; despertad.